Com 72 anos e uma história marcada por sofrimento, médica cristã morre após sofrer tortura e ser libertada de prisão na China; denúncia de torturas e abusos revelam rotina de perseguição religiosa pelo regime comunista.
Liu Dongxian, uma médica de 72 anos, ex-chefe do Hospital da Cruz Vermelha do Condado de Taoyuan, na Província de Hunan, resistiu a anos de brutalidade e cárcere na China. Sua “culpa”? Recusar-se a renunciar à prática do Falun Gong, uma disciplina espiritual com ensinamentos baseados em verdade, compaixão e tolerância. Libertada precocemente após longos períodos de prisão e tortura, Liu sucumbiu aos ferimentos dias depois, segundo denúncias de organizações de direitos humanos.
Sua trajetória de sofrimento revela a implacável perseguição religiosa do Partido Comunista Chinês (PCCh) contra cristãos e praticantes de crenças espirituais consideradas “ameaças” ao controle do regime. Torturas como espancamento, choques elétricos e privação de necessidades básicas eram constantes nas detenções de Liu. De acordo com relatos, ela foi até impedida de usar o banheiro por uma semana e, quando encontraram urina em sua cela, os guardas a forçaram a lamber o chão. A gravidade das torturas deixou suas pernas e pés permanentemente inchados e feridos, como relatado pelo Minghui.org, organização sem fins lucrativos que monitora a perseguição ao Falun Gong.
A Campanha de Perseguição: religiosidade como ameaça ao PCCh
Introduzido em 1992, o Falun Gong tornou-se popular rapidamente na China, atraindo milhões de seguidores. Com seus princípios espirituais e práticas meditativas, o movimento entrou em rota de colisão com o então líder do PCCh, Jiang Zemin, que via na prática um ataque aos fundamentos de ateísmo e materialismo do regime comunista. Em 1999, foi lançada uma campanha nacional de perseguição, marcada por prisões, torturas e repressão aos praticantes.
Em sua última prisão, em dezembro de 2016, Liu foi sentenciada a nove anos de detenção por conscientizar a população sobre a violência sistemática contra os seguidores do Falun Gong. Na prisão feminina de Hunan, os guardas não só a obrigavam a permanecer de pé por horas como restringiam seu uso do banheiro, a menos que as detentas “supervisoras” permitissem. Segundo relatos, em 2022 ela foi transferida para uma área de alta segurança, onde outras detentas do Falun Gong padeciam de problemas graves de saúde após meses de maus-tratos.
Em maio de 2024, com sua condição física deteriorada por hipertensão e problemas cardíacos, Liu foi libertada antecipadamente numa tentativa do regime de evitar responsabilidade por sua saúde debilitada. Contudo, mesmo solta, os anos de maus-tratos cobraram seu preço, e ela faleceu poucos dias depois, aos 72 anos.
Anos de tortura e repressão religiosa pelo PCCh
A prisão em 2016 foi apenas a última de uma série de encarceramentos e abusos enfrentados por Liu, que, desde 2000, foi repetidamente presa e torturada. Em 2001, quando viajou a Pequim para pedir o direito de praticar o Falun Gong, foi detida e torturada com choques elétricos por cinco horas. Em uma prisão de trabalhos forçados, foi coagida a sentar-se por horas em um banco minúsculo, algemada e sujeita a alimentação forçada quando tentava protestar com greves de fome. Em um desses episódios, após ser alimentada à força, sofreu uma grave hemorragia gástrica, e sua pressão arterial chegou a 300 mmHg.
Após uma de suas libertações, em 2002, Liu assinou um termo de vigilância, ameaçada pelas autoridades com multas pesadas e retaliações à sua família caso voltasse a infringir as leis. No entanto, ela seguiu com a prática do Falun Gong, defendendo seu direito à liberdade de fé e a dignidade dos perseguidos.
Detida novamente em 2006, Liu foi submetida a nova série de torturas brutais e mais tarde condenada a três anos de prisão, período em que foi obrigada a suportar longos períodos sem dormir e sem acesso ao banheiro. Em uma greve de fome em 2007, viu-se forçada a ingerir alimentos que seu corpo não tolerava, perdendo drasticamente peso e vitalidade.
Uma luta inabalavél pela fé
Apesar dos anos de abusos físicos e psicológicos, Liu Dongxian jamais cedeu às pressões do governo chinês. As autoridades tentaram forçá-la, repetidas vezes, a renunciar à prática do Falun Gong, mas Liu permaneceu inabalável em sua fé e seu compromisso com a verdade. Durante os momentos mais sombrios de seu encarceramento, enquanto enfrentava torturas cruéis e desumanas, ela escolheu manter-se firme em suas crenças, recusando-se a submeter-se ao controle do Partido Comunista Chinês (PCCh). No fim, Liu pagou com a vida pelo preço de sua resistência e por seu desejo de defender o direito de acreditar e praticar uma fé em um regime que considera qualquer devoção religiosa uma ameaça.
Sua morte ressoa como um grito silencioso, mas poderoso, que transcende as fronteiras chinesas e toca o mundo inteiro. Liu não foi a primeira, nem será a última, a sofrer sob a repressão de um governo que considera a fé uma ameaça ao seu poder. Seu sacrifício ilumina a difícil realidade enfrentada por milhares de pessoas que ainda hoje são perseguidas e abusadas em nome do controle e da doutrinação estatal.
A história de Liu Dongxian ecoa as vozes de muitos que sofrem nas sombras, cujo único “crime” foi escolher viver conforme seus princípios espirituais, o que é visto como subversivo pelo regime chinês. Em sua memória, o sofrimento dos perseguidos ganha um rosto, um nome e uma urgência que atravessa fronteiras. Sua morte reacende o clamor internacional por justiça e exige uma resposta firme contra os crimes cometidos pelo governo chinês contra a liberdade religiosa e a dignidade humana — violações que, conforme revelam denúncias de organizações de direitos humanos, continuam a ocorrer de forma impune.