Desde séculos, em todo o mundo, a velha mídia pauta o debate de ideias, os diálogos culturais e os debates intelectuais – pseudointelectuais, para dizer bem a verdade -, porém, de décadas para cá, tal tarefa da mídia vem se tornando cada vez mais putrefata, corrompida e idiota, valendo-se da ignorância e da preguiça satânica presente nas massas, gerando assim, uma bola de neve de burrice, autoengano, histeria e vergonha.
Em cada lugar do mundo isto ocorre de determinada forma, mas no Brasil, especificamente, se deu pois, na segunda metade do século XX, durante o período do regime militar brasileiro, a esquerda emponderou-se do aparato universitário e midiático de tal forma que ambos passaram a usar, cada vez mais, uma linguagem semelhante. As universidades, lotadas até o talo de professores, mestres, doutores e reitores, comunistas, todos os anos, destinavam enxurradas de diplomados para o mercado de trabalho, e se destacavam, evidentemente, aqueles das áreas da educação, da comunicação e da cultura.
Com a perda, gradativa, de uma alta cultura e o emburrecimento programado comunista aos moldes de Freire e Gramsci, deploráveis foram ficando os níveis dos debates públicos nacionais e pior ainda foi ficando a inteligência do povo. Chegou-se a um ponto, portanto, que a hegemonia esquerdista na velha mídia, na política e na universidade, derrubou, abruptamente, a qualidade de tudo o que se via, se escrevia e se imaginava, em terras tupiniquins.
A velha mídia, portanto, se tornou o centro da cultura nocional e as universidades, por sua vez, começaram a copiar a mídia e reverberar o que era ali apresentado e falado com ares de alta cultura. Porém, usar a mídia como fonte fundamental de informação é, para um intelectual, um absurdo tremendo, e muitos fizeram e fazem isso, não apenas no Brasil. Os pseudointelectuais brasileiros pararam de servir-se das fontes primárias de informação para valer-se do que era reverberado pela velha imprensa.
O erro dessa gente é não compreender – por burrice ou canalhice – que existem diferentes tipos de linguagem e cada uma requer um ambiente correto para a sua utilização. (1) A linguagem da mídia é constituída, eminentemente, de chavões e frases feitas, sendo assim, levar a mídia como fonte segura de informação é estúpido, pois ela nem mesmo se presta para isso. Você pode achar que lendo jornal ou assistido algo da televisão, você está tendo acesso a fatos, mas não é assim, porque toda a notícia de jornal e tudo aquilo que é apresentado pela mídia, é escrito de acordo com um esquema fixo, ou seja, é calculada para só apreender do fato concreto aquilo que combina com as normas de sua redação e com o perfil de produto.
Perfil de produto é a identidade do jornal, do canal televisivo, etc, portanto, o material que entra, tem que se moldar ao perfil do produto e se moldar para aquilo que o público espera receber de tal ou qual empresa. Isso não quer dizer que o que aparece na mídia não tenha nada a ver com a realidade, mas a referência daqui que você está vendo não é a realidade, em si, mas é outra coisa, é um recorte muito especializado que é determinado, não pela natureza do que está acontecendo, pela natureza do fato, mas pelas finalidades desejadas.
Existe também (2) a linguagem padronizadas das ciências, técnicas e profissões criadas para possibilitar a comunicação pragmática em áreas muito limitadas da experiência humana; (3) a linguagem da propaganda comercial e política, destinada a induzir comportamentos e não comunicar o que quer que seja; (4) a linguagem da tradição literária, que se conservada viva pela constante produção de novas obras intelectuais de qualidade. A única linguagem que tem abertura para a experiência real e concreta dos seres humanos e da realidade, em si, aquela que pode dizer o que estão vendo, sentindo, observando, desejando, é somente a linguagem literária, nenhuma outra.
E, no Brasil, como em praticamente nenhum outro lugar do mundo, a linguagem literária foi jogada no fundo do lixo, o que sobra é a linguagem da mídia, da propaganda política e comercial, e das ciências técnicas, embora nenhuma de nada tem a ver com a realidade, apenas percepções abstratas ou fragmentárias da realidade. E o que sobra? Pequenos círculos de experiências reais de um lado e um mar de impressões aleatórias de outro.
Assim, se a produção literária de alta qualidade se debilita ou, como no caso brasileiro, desaparece quase por completo, o resultado inevitável é que só reste à disposição os três outros tipos de linguagens compostas de chavões e frases feitas, cujo efeito psicológico é inversamente proporcional ao coeficiente de experiência real e viva que transmite. Ou seja, as opiniões e as crenças serão tanto mais facilmente aceitas quanto menos tiverem a ver com a realidade de vida. É uma inversão diabólica. A realidade será banida do senso comum e será aniquilada qualquer tentativa de descrevê-la com realismo e será rejeitada aos gritos como sinal de loucura. É a linguagem da alienação, do divórcio completo do pensamento e experiência
E não é o papel da grande mídia produzir alta cultura. Ela não conseguirá nem que tenha boa vontade e nem que tenha boa gente ali – nada disso existe em nossa nação. Como já tratei em outros textos, a imprensa só publica aquilo o que já foi publicado. Como eu disse antes, e ratifico aqui, o jornal só publica os fatos que correspondem ao seu perfil de produto e a estrutura de textos que está acostumado a publicar. Aquilo que sai desse enquadramento, simplesmente, não interessa. Sendo assim, a mídia não trata da realidade, mas trata do senso comum, aquilo que já é sabido, mais ou menos, pelo povo.
Reafirmo, didaticamente, que nenhum instrumento que a imprensa mundial criou, servem para descrever a realidade, só servem para dizer o que já foi dito ou pelo menos, fazer com que as coisas novas se pareçam com as velhas. A mídia imprensa tende dar a impressão que domina o assunto, mas o que acontece é a utilização de truques bobos, generalizações e lugares comuns, que as pessoas repetem com segurança pois estão dizendo o que todos seus colegas estão dizendo. Isso não requer conhecimento do assunto, requer pompa, autoridade, maquiagem e imitação.
Mídia é aquilo que está no meio, é para onde convergem os olhares ao mesmo tempo, ela intercomunica os vários setores, pessoas, grupos, etc. Cada um fala em nome de seu próprio grupo, mas só a mídia unifica isso, e unifica na base do mínimo comum, ou seja, aquilo que todo mundo já acha que sabe. Sendo assim, para adquirir conhecimento verdadeiro, a última coisa que você deve fazer é pautar-se pelas empresas que compõem a velha mídia e se você acompanha, unicamente, jornais e televisões brasileiras, sugiro que compreenda o oposto daquilo que estão afirmando ali, para a sua segurança.
E o que deve ser feito? Utilizar-se da linguagem literária, pois ela é a única que te ensina a descrever aquilo que você está realmente vendo. É a única linguagem que promove conhecimento, que promove experiência concreta e real. É a única linguagem capaz de ensinar algo para alguém. Do contrário, caro leitor, você viverá de fragmentos soltos, abstratos e aleatórios da realidade, passando a ser pautado por setores de mídias que não desejam, verdadeiramente, te informar, mas desejam que você compre a ideia de sua linha editorial, adquira seus produtos e deixo-os ainda mais endinheirados, afinal, para que exista o monopólio midiático, apenas o dinheiro dado por amigos do establishment será suficiente.