Quando Tolstói, em A Morte de Ivan Ilitch, descreve o apartamento que Ivan alugara ao se mudar para uma cidade onde iria trabalhar — viagem que fez sozinho, a pedido da irmã e do cunhado —, o narrador descreve as salas de recepção espaçosas, altas e “de estilo antigo”. Esse detalhe traz uma perspectiva sobre o que poderia ser considerado “estilo antigo” aos olhos de Tolstói ao referir-se a esse cômodo do apartamento.
Essa é uma das magias da literatura: desde o tempo de Tolstói até os dias atuais — e para qualquer pessoa que tenha lido a obra ao longo desse intervalo —, a concepção do que é “estilo antigo” mudou. No entanto, essa mudança é irrelevante para o entendimento da obra, pois não afeta a ambientação dentro dela, mas cria no imaginário de cada um que a lê um ambiente diferente, individual e que — por mais que se diga antigo — permanece atual e sem afetar a experiência do leitor por gerações.
Para alguém dos dias de hoje, “estilo antigo” pode significar uma arquitetura europeia de época, como a que os portugueses trouxeram para o Brasil.
Já imaginar o que seria “estilo antigo” para Tolstói pode evocar a Idade Média, com casas e castelos de pedra ou para aqueles que conhecem sua origem, a majestosa arquitetura russa dos tempos dos Czares.
Talvez, o que torna uma obra ou um autor memorável não seja o desfecho da obra, mas sim os pequenos detalhes que nos fazem passar horas ou até dias refletindo, quase filosofando, buscando os significados ocultos capítulo a capítulo dentro de suas passagens.