Linguagem é uma capacidade especificamente humana de aquisição e utilização de códigos, símbolos e sistemas de comunicação. O estudo da linguagem nos mostra com certa clareza, o estado de coisas presentes numa determinada sociedade. Tal estudo da linguagem é essencial para compreensão e melhoria da realidade em que vivemos.
Além disso, a ideia antecede a palavra, assim, quando falamos de época histórica, o material linguístico que ela possui expõe sempre aspectos implícitos da linguagem, ou seja, quando eu penso numa cadeira, eu tenho previamente uma ideia que define uma cadeira com este nome, assim, existe uma relação entre ideia e definição. Por isso, cumpre, antes de tudo, dissociar o conceito de linguagem da nossa interpretação das coisas da natureza. Para haver linguagem é preciso que ocorra uma atividade mental, tanto no campo de partida, de onde minha ideia surge, até o ponto de chegada, a concepção, a definição.
Noutros termos, é preciso que o manifestante tenha uma intenção prévia no ato de sua definição. A distinção entre o conteúdo da crença e o objeto da crença é indispensável para conversarmos sobre a confusão inerente à condição humana, que em diferentes tempos históricos sempre atingem proporções consideráveis. No Brasil, porém, a coisa é diferente, pois a maioria dos brasileiros perdeu tal habilidade de distinção.
A linguagem possui três funções: a primeira é a função expressiva, pela qual você manifesta seus sentimentos, seus estados interiores. A segunda função é a apelativa, pela qual você age sobre as consciências dos outros, por exemplo, o vendedor que está argumentando para você comprar um carro ou uma geladeira, que age sobre sua mente. E, terceiro, a linguagem tem a função nominativa, que é a função de descrever a realidade. Essa é, obviamente, a mais difícil. Nominativa, porque visa dar nome às coisas.
No uso geral que se está fazendo da língua portuguesa no Brasil, a função nominativa da linguagem simplesmente desapareceu. As pessoas não se expressam para descrever o que estão vendo e experimentando, mas para dar certas impressões. Ou porque isso lhes faz bem, portanto estão na função expressiva ou porque querem que as pessoas sintam isso ou aquilo para que haja da maneira que interessa a eles.
Ao analisarmos toda a classe dita “letrada” do Brasil, podemos notar também tal corrupção da linguagem. Jornalistas, professores, juízes, escritores, etc, todos utilizam-se da linguagem de forma deturpada, visando o simples convencimento do interlocutor, podendo apelar para o sentimentalismo e abstrações, que comprometem a análise verdadeira dos fatos, que nublam e se distanciam da realidade, em nome das suas vontades e suas crenças. Tal ato, dessa classe burocrática letrada, se deve a um misto de canalhice, más intenções e burrice plena, o que está causando um mal irreversível para nossa sociedade já razoavelmente estupidificada.
Vivemos em tempos de desgraça linguística, assim como em regimes totalitários. Vivemos em uma generalidade e num relativismo que nada mais representa do que a própria cegueira. A impossibilidade de esgotamento da própria Verdade é tomada como prova de uma inexistência da Verdade. Uma inexistência onde nada é nada, onde tudo pode ser tudo, e assim sucessivamente dentro desses sofismas que, no fundo, nada expressam. Vivemos subordinados a uma vontade que tira a limpo convenções arbitrárias que negam o pensamento subjetivo na sua relação prévia com o pensamento objetivo. Vivemos numa babel impregnada de idealismo linguístico, que reduz o ser das coisas percebidas. Estamos perante a novilíngua o orwelliana.
A corrupção da linguagem e a falta do domínio linguístico também podem causar inúmeros problemas psicológicos, e além de você não conseguir ter uma relação profunda, saudável e digna com ninguém, você perderá os quatro pontos cardeais de uma personalidade bem formada, ou seja, as chamadas quatro virtudes cardeais, sendo elas a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança.
A utilização da destruição da linguagem como arma psicológica de dominação e contenção, não é uma ideia nova. Maquiavel, no século XVI, ensinou ao Príncipe que devia, mais do que utilizar as palavras de maneira conveniente, mas usar delas para convencer o povo a usá-las conforme sua conveniência. No século passado, na URSS, Lênin transformou o significado de algumas palavras e proibiu tantas outras. Na Alemanha, Paul Joseph Goebbels substituiu algumas palavras e eliminou as que incomodavam o projeto nazista. Antonio Gramsci, posteriormente, também ensinou a destruir a linguagem como forma de implantação de uma “nova ordem” social e cultural, aos moldes marxistas.
Mudar o valor e o peso das palavras é determinar, de antemão, o curso dos pensamentos baseados nelas e, portanto, das ações que daí decorram. Qualquer um que queira adaptar seu discurso às exigências do “politicamente correto”, seja pelo motivo que for, cede a uma chantagem moral bizarramente ridícula e torna-se cúmplice do jogo de ego e poder que a inspirou.
Sendo assim, fica claro que não há instrumento de controle social mais eficiente do que a imposição de novas normas de linguagem, que limitam o pensamento e modelam a conduta das multidões sem que sequer percebam que estão sendo manipuladas. Nas altas esferas do movimento revolucionário, o emprego desse instrumento foi adotado como estratégia prioritária de guerra cultural para a destruição da civilização do Ocidente desde pelo menos a segunda década do século passado.
A deturpação da linguagem é o primeiro passo para a implementação de qualquer ditadura. Com a deturpação da linguagem, abrimos margem para a deturpação de todos os conceitos humanos, sendo assim, haverá uma revolução no vocábulo e na compreensão da realidade. O bom deixa de ser bom, o mau deixa de ser mau, o justo deixa de ser justo, porque tudo vira subjetivismo.
Uma pessoa não pode ser livre sem possuir a capacidade de expressar suas dores, ou de concatenar numa frase duas ou três ideias, ou de exercer a política em prol de um bem comum baseada no domínio da língua. Liberdade só existe com a compreensão do veículo da linguagem.