Cotado para assumir a presidência do PT, Edinho Silva diz que esquerda perdeu apoio da classe média no país

Edinho Silva (PT), um dos cotados para assumir a presidencia nacional do PT em 2025, aponta desafios para a esquerda reconquistar espaço na classe média depois da derrota nas eleições municipais.

Edinho Silva, atual prefeito de Araraquara (SP) e nome cotado para a presidência do Partido dos Trabalhadores (PT) em 2025, destacou em recente entrevista que a esquerda enfrenta dificuldades para reconquistar a classe média, que se voltou fortemente à direita nas eleições municipais de 2024. Reconhecendo o cenário político adverso, Silva, preferido de Lula para liderar o partido, chamou a atenção para o desafio de renovação interna da legenda e de formulação de propostas que dialoguem com os anseios da sociedade brasileira.

Em conversa com a jornalista Malu Gaspar, do jornal O Globo, Edinho Silva apontou que o PT e a esquerda em geral carecem de um sucessor à altura de Lula, cuja figura carismática continua centralizando o partido. “Há uma conjuntura muito desfavorável para o campo progressista [esquerda] e democrático”, avaliou, destacando ainda que líderes históricos do partido como José Dirceu, Ricardo Berzoini, e João Paulo Cunha, apesar de seus passados controversos, poderiam contribuir na articulação política do partido. “São figuras com acúmulo de experiências. Têm vivências que precisam estar próximas”, afirmou.

A ausência de uma estratégia clara para renovação e os desafios para reconectar-se com setores da sociedade, especialmente a juventude, são pontos que o próprio Edinho reconheceu como necessários para a sobrevivência do partido. Segundo ele, uma resposta passa pela criação de alianças com partidos de centro, visando um “campo democrático” para as eleições de 2026. “É preciso entender essa transferência de apoio para a direita e construir uma aliança sólida que possibilite uma reforma no Estado brasileiro”, afirmou o prefeito.

Além disso, Edinho Silva defendeu mudanças no sistema eleitoral, com a adoção do voto em lista, onde o eleitor vota no partido e não no candidato individual, permitindo à legenda priorizar seus representantes em uma ordem estabelecida. “Não podemos permitir que o ambiente antissistema fortaleça figuras individuais acima das instituições”, explicou.

Ao comentar sobre a relação do PT com o governo de coalizão, Edinho discordou da presidente atual do partido, deputada federal Gleisi Hoffmann, que havia declarado que o PT sofria desgastes por compor um governo de alianças. “Seria um erro acreditar nisso. Sem a amplitude das alianças, Lula não teria vencido a eleição de 2022, a mais polarizada da nossa história”, argumentou.

Sucessão no PT e resultados eleitorais

O cenário eleitoral recente, porém, trouxe obstáculos para Edinho Silva. Mesmo com apoio de Lula para assumir a presidência do PT, o prefeito não conseguiu eleger sua sucessora em Araraquara-SP. A candidata Eliana Honain (PT) foi derrotada por Dr. Lapena (PL), apoiado por figuras ligadas ao Jair Bolsonaro. Edinho atribuiu o resultado à forte presença de lideranças bolsonaristas nos dias finais da campanha, afirmando que “ataques misóginos” e a polarização nacional influenciaram o resultado. “Tivemos a presença de Nikolas Ferreira, Michelle Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro, além de vídeos do ex-presidente. Isso trouxe uma forte polarização e inclinou o voto dos indecisos para o bolsonarismo”, lamentou.

Com o revés eleitoral, uma ala do partido ligada a Gleisi Hoffmann passou a sugerir outros nomes para a liderança do PT, incluindo o do deputado federal José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara. A disputa pela presidência do partido promete se intensificar e só deverá ser resolvida em meados de 2025.

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