As bases do marxismo não foram produtos da mente de Karl Marx e não nasceram de nenhum estudo sério da economia; tudo o que Marx viria a escrever e dizer – com exceção do pretexto materialista-dialético e das estatísticas que ele falsificou dos célebres Blue Books do parlamento britânico – já estava nas doutrinas dos heresiarcas messiânicos desde o século XIV. Repito: tudo! Desde a luta de classes, a revolução, a socialização dos meios de produção, a ditadura do proletariado, a missão da vanguarda revolucionária. Até as ideias de Lênin e de Antônio Gramsci já estão antecipadas em John Knox, John Huss e em Thomas Münzer

Diferente do que pensa o alienado moderno e o aluno maconheiro da USP, Karl Marx não foi nenhum gênio, nenhum grande pensador, nenhum cientista social notável. Embora uma ou outra análise acertada, foi uma besta, incapaz de dominar os problemas filosóficos mais elementares e de se orientar no meio das nebulosas teorias que ele próprio criou. Ironicamente, Karl Marx, que engravidou sua empregada e recusou todo cuidado paternal ao filho, escreveu páginas furibundas contra os burgueses que abusavam de moças proletárias. Impossível ver nisso um mero caso de hipocrisia. Algo de muito mais sinistro está embutido nas desculpas convencionais que cavam um abismo ontológico entre Karl Marx, o filósofo da revolução, e Karl Marx, o patrão de Helene Demuth.

Ironicamente, não foi enquanto revolucionário que Marx abusou da moça pobre, mas enquanto filho de burguês e herdeiro, e portanto vítima das taras da classe dominante. Ao apontar nos outros o mal que ele mesmo exercia, Marx transmutou o pecado burguês em virtude revolucionária. Outro detalhe irônico se dá no fato de que Marx tenha dito que apenas o proletário era capaz de enxergar a realidade tal como ela verdadeiramente é, embora, ele mesmo fosse burguês, e sendo Helene Demuth, provavelmente a única proletária que se relacionou em sua vida. A vida deste homem foi banhada de paralaxe cognitiva.

Infelizmente, por menos que gostem disso, seu cérebro está programado para enxergar o capitalismo como luta de classes e exploração da mais-valia, tal como verbalizado por Marx. Embora a tradição marxista condene veementemente a “abstração burguesa”, que supostamente raciocina a partir de meros conceitos sem significado histórico prático, todas as análises de Marx sobre o capitalismo são abstrações em sua forma mais primitiva. Ele define o capitalismo como a exploração da mais-valia e deriva as consequências desta definição sem ter em conta as condições históricas e sociais sob as quais o capitalismo existe. Marx, assim como todo imbecil, tira conclusões perante suas próprias premissas, e que se dane a realidade.

Partindo da sua definição de capitalismo, Marx acreditava que o número de consumidores diminuiria cada vez mais, até que a máquina de exploração já não tivesse condições de funcionar, o que geraria revolta do proletariado, a tomada dos meios de produção, o engrandecimento do Estado e à ditadura do proletariado, que levaria ao paraíso comunista. Premissas erradas, conclusões ridículas. Se cabe descrever os processos históricos como “essências”, essa é a essência do capitalismo, e o que se deveria deduzir dela é que, se essa essência viesse a existir historicamente, o resultado seria a ampliação progressiva da classe média até a dissolução do “proletariado” como classe identificável. Isto foi exatamente o que aconteceu, e foi exatamente o contrário do que Marx previa.

Para fazer a previsão correta, Marx precisaria ser um filósofo de verdade, isto é, saber, pelo menos, aquilo que todo discípulo de Sócrates já sabia, desde ao menos dois milênios: distinguir entre o que o cérebro inventa e o que a experiência ensina. A experiência pode ser confusa e o pensamento introduz nela alguma ordem e clareza. O que não vale é substituir a experiência por meros pensamentos. Mas Karl Marx foi um pouco além: ele acreditou piamente que seus pensamentos acabariam por demonstrar a irrealidade da experiência. Não é possível ser vítima de um erro tão básico.

Por causa de tamanha estupidez, nove a cada vez pensadores marxistas, insistem em produzir novos significados para a doutrina do mestre, de modo que ela acabe dizendo o que não dizia antes e, a cada vez que é refutada pelos fatos, pareça surgir revigorada e vitoriosa. Uma das estratégias mais frequentes usadas para esse fim é aniquilar a estrutura da teoria tal como aparece nos escritos de Marx e reconstruí-la desde algum ângulo que pareça o pináculo do pensamento humano.

Não deixa de haver uma certa virtude ascética na humildade com que os exércitos de formadores de opinião e agentes de influência esquerdistas renunciam ao mérito histórico das suas ações e desaparecem por trás do cenário, atribuindo os resultados de seus esforços à dialética anônima do “mercado”, a qual, abstração feita da guerra cultural incessante movida pela militância esquerdista para corromper o capitalismo desde dentro, parece até funcionar como Marx disse que funcionaria.

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